sábado, 19 de setembro de 2015

As características dos alunos da Eja

          


         A concepção de mundo de uma pessoa que regressa aos estudos na idade adulta, muitas vezes após anos afastados da escola ou mesmo daquele adulto que está começando agora sua trajetória escolar, é bem peculiar. São pessoas que já formaram sua visão de mundo pelas experiências vividas e que têm suas crenças e valores já constituídos. Além disso, os alunos jovens e adultos, ao contrário das demais modalidades de ensino, são tipos humanos diversos, com seus traços de vida, origens, idades, vivências profissionais, históricos escolares, ritmos e estruturas de aprendizagem diferenciadas. Vivem no mundo adulto do trabalho, têm responsabilidades sociais e familiares e formaram seus valores éticos e morais a partir da experiência e do ambiente da realidade cultural em que estão inseridos. Neste contexto, o professor da EJA deve estar preparado para lidar e agrupar essas diversas experiências trazidas pelo educando e usá-las a seu favor e transformá-las em conhecimento significativo para o educando no processo de ensino aprendizagem.


http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=2069

Paulo Freire



         Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, no Recife, Pernambuco, uma das regiões mais pobres do país, onde logo cedo pôde experimentar as dificuldades de sobrevivência das classes populares. Trabalhou inicialmente no SESI (Serviço Social da Indústria) e no Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife. 
Ele foi quase tudo o que deve ser como educador, de professor de escola a criador de idéias e "métodos". Sua filosofia educacional expressou-se primeiramente em 1958 na sua tese de concurso para a universidade do Recife, e, mais tarde, como professor de História e Filosofia da Educação daquela Universidade, bem como em suas primeiras experiências de alfabetização como a de Angicos - RN, em 1963. 
A coragem de pôr em prática um autêntico trabalho de educação que identifica a alfabetização com um processo de conscientização, capacitando o oprimido tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a sua libertação fez dele um dos primeiros brasileiros a serem exilados.


http://www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/

Desmotivação e Evasão na EJA.


        A evasão dos alunos é um problema grave na Educação de Jovens e Adultos em todo o país. Já ouvi muitos casos de classes que começam o ano com 30 alunos e, já no final do primeiro semestre, estão com metade das carteiras vazias.
        Acho que todos nós concordamos que muitos dos fatores que levam nossos alunos a abandonarem os estudos estão fora do nosso controle. No entanto, há vários aspectos em que podemos ajudar. A seguir, listo alguns pontos que, em minha opinião, podem motivar os estudantes a permanecerem na escola.
        Em primeiro lugar, a escola precisa ser uma experiência positiva. Para uma pessoa que já tem uma rotina pesada com trabalho, cuidados com a família, cuidados com a casa, entre outros afazeres, é difícil chegar à escola, no final do dia, e ainda por cima encontrar aulas desinteressantes, colegas desmotivados… Vou colocar de uma maneira mais simples: frequentar a escola não pode ser uma coisa chata. Tem que ser um momento agradável no dia de nossos alunos.
        Penso também que a organização da escola tem papel fundamental na permanência dos alunos. Eles percebem rapidamente quando a escola está desorganizada, os professores são pouco assíduos ou o planejamento é falho. Já ouvi vários estudantes dizerem: “Larguei a minha outra escola porque ela era muito bagunçada. Os professores faltavam muito e não levavam a sério. Se nem eles levam a sério, por que eu vou levar?”.
       Por outro lado, já ouvi dizerem: “Puxa vida, professor, você faz igualzinho à outra professora! Vocês combinaram?”. Essa sensação de que há uma organização, de que os professores trabalham em equipe e estão “levando a sério” é uma força que tende a puxar os alunos para a escola. Garantir o bom funcionamento da escola representa um trabalho enorme que diz respeito principalmente à equipe gestora, mas envolve desde manutenção e limpeza até o próprio comprometimento dos professores.
        Outro ponto em que podemos ajudar é com a criação de vínculo afetivo com a escola. Se conseguirmos que os alunos gostem e se sintam ligados à escola, eles terão mais motivos para evitar deixá-la. Isso se soma à questão da experiência positiva, que já mencionei neste post, mas vai além. Penso que a escola tem que representar um lugar onde se tem acesso ao conhecimento, um espaço a que os alunos se apeguem e considerem importante para suas vidas.
       Esse vínculo envolve também os colegas da turma. A escola é espaço para socializar, conversar, ouvir o outro. No entanto, nós professores costumamos exagerar no uso do giz e da lousa e promovemos poucas atividades em que os alunos possam interagir. Sempre fico chocado quando um estudante, no fim do semestre, revela que não sabe o nome de um colega, depois de tantas aulas! É um sinal de que a convivência não aconteceu, certo? Temos que evitar isso!
        Penso que as atividades em que os alunos se organizam de maneira diferente, olham uns para os outros e trocam opiniões, colaboram para construir um clima de respeito e camaradagem que, no final das contas, constrói essa escola que faz o aluno “sentir falta”.
         Um exemplo de uma atividade desse tipo é a dinâmica da teia, que relatei em outro post. Veja também os exemplos propostos por outros professores nos comentários.
         Encerro lembrando mais um aspecto importante que diz respeito a cada área do conhecimento: o currículo. O que ensinamos na escola tem que ter ligações com o mundo do aluno. Conteúdos que só servem para as avaliações não são atrativos. Temos que procurar sempre promover aprendizados que ajudem o aluno a compreender o mundo que o cerca.

 http://revistaescola.abril.com.br/blogs/eja/2014/03/05/desmotivacao-e-evasao-o-que-fazer-para-incentivar-jovens-e-adultos/

Breve histórico da EJA

        



        A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino complexa porque envolve dimensões que transcendem a questão educacional. Até uns anos atrás, essa educação resumia-se à alfabetização como um processo compreendido em aprender a ler e escrever. O professor que se propõe a trabalhar com adultos deve refletir criticamente sobre sua prática, tendo também uma visão ampla sobre a sala de aula, sobre a escola em que vai trabalhar. Tem que ampliar suas reflexões sobre o ensinar, pensando sobre sua prática como um todo. Ele precisa resgatar junto aos alunos suas histórias de vida, tendo conhecimento de que há uma espécie de saber desses alunos que é o saber cotidiano, uma espécie de saber das ruas, pouco valorizado no mundo letrado e escolar. Freqüentemente o próprio aluno busca na escola um lugar para satisfazer suas necessidades particulares, para integrar-se à sociedade letrada, da qual não pode participar plenamente quando não domina a leitura e a escrita, um novo pensar sobre a educação de jovens e adultos traz para o âmbito escolar questões relativas ao processo histórico do aluno.

 Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.38, p. 49-59, jun.2010 - ISSN: 1676-2584.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A origem da EJA e sua importância para os dias atuais.



           A educação de trabalhadores, até bem pouco tempo, não era tida como necessária. A partir das transformações no processo de trabalho e no processo industrial, esse conceito mudou e surgiu a necessidade de um “operário pensante”. Este trabalho apresenta, de maneira breve, como os programas desenvolvidos no país voltados à alfabetização de jovens e adultos se estruturaram. Relata, ainda, uma pesquisa feita com alguns professores do Colégio Estadual Coronel Serrado, da rede estadual do Rio de Janeiro, sobre suas concepções a respeito da EJA. A educação de adultos das classes pobres sempre foi vista pela classe dominante como desnecessária e até “prejudicial” à felicidade desses trabalhadores. O discurso da elite naturalizava a condição financeira; assim, os menos favorecidos deveriam aceitar a posição à qual foram destinados na sociedade. Na verdade, o que se escondia por trás dessa ideia é que a educação seria subversiva e poderia criar indivíduos perigosos: capazes de entender seu papel enquanto cidadãos, questionadores, insubordinados, “inimigos da sociedade” estabelecida. O trabalho na agricultura ou mesmo na indústria era braçal e dependia de um treinamento mínimo. Seria um desperdício gastar energia e dinheiro com alfabetização de adultos já inseridos no mercado de trabalho, sendo melhor investir na educação de base – a educação infantil. Essa política de adestramento foi dominante até pouco tempo. A história da EJA no Brasil é, portanto, uma história recente. Com o desenvolvimento industrial e a reorganização do processo do trabalho, iniciou-se uma mudança de postura e interesses da elite em relação à formação do trabalhador. A partir daí, houve valorização da educação de adultos, buscando a capacitação profissional desses trabalhadores. Novas iniciativas têm surgido a fim de garantir uma metodologia adequada a discentes com esse perfil.