A evasão dos alunos é um problema grave na Educação de Jovens e Adultos em todo o país. Já ouvi muitos casos de classes que começam o ano com 30 alunos e, já no final do primeiro semestre, estão com metade das carteiras vazias.
Acho que todos nós concordamos que muitos dos fatores que levam nossos alunos a abandonarem os estudos estão fora do nosso controle. No entanto, há vários aspectos em que podemos ajudar. A seguir, listo alguns pontos que, em minha opinião, podem motivar os estudantes a permanecerem na escola.
Em primeiro lugar, a escola precisa ser uma experiência positiva. Para uma pessoa que já tem uma rotina pesada com trabalho, cuidados com a família, cuidados com a casa, entre outros afazeres, é difícil chegar à escola, no final do dia, e ainda por cima encontrar aulas desinteressantes, colegas desmotivados… Vou colocar de uma maneira mais simples: frequentar a escola não pode ser uma coisa chata. Tem que ser um momento agradável no dia de nossos alunos.
Penso também que a organização da escola tem papel fundamental na permanência dos alunos. Eles percebem rapidamente quando a escola está desorganizada, os professores são pouco assíduos ou o planejamento é falho. Já ouvi vários estudantes dizerem: “Larguei a minha outra escola porque ela era muito bagunçada. Os professores faltavam muito e não levavam a sério. Se nem eles levam a sério, por que eu vou levar?”.
Por outro lado, já ouvi dizerem: “Puxa vida, professor, você faz igualzinho à outra professora! Vocês combinaram?”. Essa sensação de que há uma organização, de que os professores trabalham em equipe e estão “levando a sério” é uma força que tende a puxar os alunos para a escola. Garantir o bom funcionamento da escola representa um trabalho enorme que diz respeito principalmente à equipe gestora, mas envolve desde manutenção e limpeza até o próprio comprometimento dos professores.
Outro ponto em que podemos ajudar é com a criação de vínculo afetivo com a escola. Se conseguirmos que os alunos gostem e se sintam ligados à escola, eles terão mais motivos para evitar deixá-la. Isso se soma à questão da experiência positiva, que já mencionei neste post, mas vai além. Penso que a escola tem que representar um lugar onde se tem acesso ao conhecimento, um espaço a que os alunos se apeguem e considerem importante para suas vidas.
Esse vínculo envolve também os colegas da turma. A escola é espaço para socializar, conversar, ouvir o outro. No entanto, nós professores costumamos exagerar no uso do giz e da lousa e promovemos poucas atividades em que os alunos possam interagir. Sempre fico chocado quando um estudante, no fim do semestre, revela que não sabe o nome de um colega, depois de tantas aulas! É um sinal de que a convivência não aconteceu, certo? Temos que evitar isso!
Penso que as atividades em que os alunos se organizam de maneira diferente, olham uns para os outros e trocam opiniões, colaboram para construir um clima de respeito e camaradagem que, no final das contas, constrói essa escola que faz o aluno “sentir falta”.
Um exemplo de uma atividade desse tipo é a dinâmica da teia, que relatei em outro post. Veja também os exemplos propostos por outros professores nos comentários.
Encerro lembrando mais um aspecto importante que diz respeito a cada área do conhecimento: o currículo. O que ensinamos na escola tem que ter ligações com o mundo do aluno. Conteúdos que só servem para as avaliações não são atrativos. Temos que procurar sempre promover aprendizados que ajudem o aluno a compreender o mundo que o cerca.
http://revistaescola.abril.com.br/blogs/eja/2014/03/05/desmotivacao-e-evasao-o-que-fazer-para-incentivar-jovens-e-adultos/